INTERIORES
21 MARÇO - 21 MAIO 2015
A exposição Interiores desdobra-se em dois momentos, paralelos e complementares. Um primeiro momento é apresentado no MU.SA – Galeria Municipal, e um segundo momento ocupa alguns espaços do Palácio de Monserrate. Em ambos os espaços as peças apresentadas estabelecem um diálogo com a história das artes decorativas, da pintura e da arquitectura dos locais. No MU.SA a instalação Frutos e ossos tem como claro referente a pintura de natureza-morta, dos sécs. XVII, XVIII e XIX. A peça é construída por um aglomerado de objectos, tais como: pratos, tachos, talheres, frutos e ossos artificiais, que se encontram uniformizados pelo material que os reveste, e que neste caso, trata-se de um material de uso industrial e de construção – o cimento. A aparência dos objectos dispersos pelo espaço expositivo, nas paredes e pelo chão, confere ao conjunto uma imagem próxima de uma escavação arqueológica. Contudo, a contemporaneidade do material usado cria um desfasamento de leitura em relação com o parecer arqueológico, do mesmo modo que, num outro plano, a composição pictórica habitual da natureza-morta e a sua vontade de se insurgir como uma representação do quotidiano, do banal, do presente e do efémero, como um instante fotográfico, são anulados e desvirtuados pela ideia de fossilização. Frutos e ossos, coloca-se num lugar de leituras possíveis que vão além do seu referente historicista, reclamando igualmente a história e as narrativas locais, e a forma como passado e presente se articulam. Neste mesmo contexto conceptual inscrevem-se as cinco esculturas da série Cantaria expostas no Palácio de Monserrate. São esculturas de definição híbrida, entre a coluna, o obelisco e a arquitectura tumular, profusamente decoradas com símbolos que evocam o popular e o erudito e que estabelecem uma ligação parental com as decorações profundamente ecléticas do próprio palácio. Ainda em Monserrate são apresentadas as peças Impérios e Fruteira biscuit. A primeira, reproduz uma jangada integralmente realizada em toile de jouy, a peça joga com a nobreza e solidez do seu título e aquilo que representa – uma jangada de brincar para crianças, desconstruindo a ideia de masculinidade e poder associada à monumentalidade imperial e em simultâneo evocando a ideia de naufrago e de exílio. Por outro lado, a tela em que é feita surge no ocidente através de uma técnica de estampagem indiana, o que mais uma vez, cria pontos de tangencia com os motivos decorativistas do Palácio. A segunda, simula uma fruteira em porcelana biscuit, integralmente branca. Pertence à série Les Dresseurs (Os Domadores), de 2011, em que existe uma apropriação directa das artes decorativas e de alguns dos seus estilos mais relevantes, nomeadamente dos períodos que compreendem os sécs. XVII a XIX (estilo Império, Barroco, Rococó, Vitoriano e Eduardiano). Deste modo, os estilos já mencionados são cruzados com uma iconografia que tem por referente as artes primeiras e o folk de culturas não ocidentais e indígenas. A fusão destes dois referentes surge numa clara ironia e questionamento em torno dos domínios culturais, noção de exotismo e interculturalidade, visando igualmente pensar a forma como as diversas manifestações artísticas não ocidentais foram ao longo da História difundidas, usadas e entendidas no ocidente a um nível maioritariamente decorativo.
MU.SA Terça a Sábado / Tuesday to Saturday 10h às 18h
Palácio de Monserrate Segunda a Domingo / Monday to Sunday 9h30 às 19h